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O Poder da Gentileza


Nestes tempos de muita preocupação consigo mesmo, e de pouco tempo para o outro, de tempos "sem-tempo", quero chamar a atenção para uma virtude que anda meio esquecida: a gentileza.

Gentileza que não quer dizer fraqueza, nem é virtude só para mulheres.

Gentileza que significa cortesia, amabilidade, fidalguia, bom tratamento.

Tem um poder muito grande e tem relação direta com a inteligência bem como denota elevação moral.

Muitos se desculpam dizendo "não tenho tempo para estas coisas". Porém, sempre é tempo para uma palavra de amizade, para um telefonema cordial, para um sorriso de afeto, dirigido mesmo àqueles que parecem endurecidos e impermeáveis às boas maneiras.

A gentileza depende do hábito. Comece hoje a cultivá-la. Há muitas maneiras de adquirir esse hábito mas precisa ter disciplina e força de vontade.

Pode-se ser gentil com os superiores, mas é muito mais difícil ser gentil com os subalternos ou com os familiares e amigos próximos, justamente aqueles com quem acabamos desdenhando as regras da conduta sadia.

Pode-se ser gentil no trânsito, com os transeuntes, em casa, no trabalho, em todos os lugares.

Cada vez é mais raro ver-se, por exemplo, uma pessoa que dê lugar a outra, dentro de um ônibus lotado. Ou numa fila. Não falo aqui de obedecer a sua vez na fila, mas de dar a vez para outra pessoa que pareça mais aflita ou necessitada. Pelo contrário: quando podem, as pessoas `furam' a fila, quase sempre invocando um título ou uma posição social que os outros não têm.

Cada vez é mais raro ver as pessoas ajudando outras a carregar sacolas, a levantar objetos caídos, a ajudar um idoso a atravessar a rua, ou a empurrar um carro que não pega.

As pessoas alegam que não têm tempo, mas na verdade o tempo é a gente que fabrica. Quantos passam horas à frente dos telejornais e das novelas e alegam não ter tempo para agradecer uma carta, um e-mail, um convite ou um favor recebido.

Outro cuidado que a gente não tem: quando precisamos fazer um telefonema, não cogitamos se estamos a incomodar o outro na hora em que ele pode estar mais ocupado. É importante que não façamos ligações em horas tardias, nem tomemos o tempo por mais de dois minutos, em assuntos triviais.

Quando esses pequenos gestos de fraternidade e reconhecimento vão sendo esquecidos, a pessoa vai ficando fria e áspera, acreditando que todos devem ser gentis para com ela, mas esquecendo que esse dever é recíproco e que devemos ser aquele que dá o primeiro passo.

Quantas vezes, no trânsito, não esperamos o pedestre terminar de atravessar a rua, buzinamos impacientemente, não damos a vez ao que está pretendendo entrar numa via preferencial, nem damos carona à mulher grávida ou ao ancião.

"Muito obrigado", "por favor", "está ótimo o seu café", "bom dia", "boa tarde", "desculpe", são expressões que estão se ouvindo cada vez menos.

Nosso teste permanente é com os familiares. No tom de voz, no tempo que lhes damos, nas pequenas atitudes para com o cônjuge, seja oferecendo-se um dia para enxugar a louça, para passar o aspirador, ou surpreendê-lo com um café na cama.

Na rua, outra maneira de demonstrarmos nossa civilidade é a forma como tratamos o pedinte. Mesmo que não possamos lhe dar nada, o importante é tratá-lo como ser humano, sem diminuir-lhe ainda mais a sua dignidade. Se não pudermos orientá-lo ou ajudá-lo, pelo menos vamos vibrar positivamente, em silêncio, certos de que o nosso pensamento poderá suavizar o seu padecimento.

Já não se fala do respeito aos animais ou à Natureza que apenas o ser mais evoluído espiritualmente consagra na forma devida.

A gentileza tem um pouco de renúncia e muito a ver com a generosidade, e esta é irmã da caridade, por isso que quanto mais elevada a pessoa, mais gentil ela é.

E quando a pessoa adquire o hábito da gentileza, esse proceder se torna uma segunda natureza. Ela assim age porque se sente bem. Não o faz para se sentir virtuosa ou para que os outros a admirem, até porque `a virtude desconhece a si mesma' e, segundo o Padre Vieira, "o prêmio das boas ações é praticá-las".

A pessoa gentil só tem um "defeito": é difícil a gente se aproximar dela, porque está sempre rodeada de muitas pessoas, que procuram se beneficiar de sua grandiosidade e nobreza.

Ainda que você não acredite em tudo o que pode a gentileza, ainda que ache que tudo isso é exagero, se você for gentil, estará se presenteando a si mesmo, porque tornará sua vida bem mais prazerosa. E viver de bem com a gente mesmo já é um grande passo para viver de bem com toda a Humanidade


Autor: Noeval de Quadros


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