Amor sem fim
Vivemos o Terceiro Milênio. Anunciado e intensamente aguardado.
Mas, como estamos vivendo estes dias? As redes sociais se tornaram as extravasadoras de manifestações de afeto.
As pessoas desejam que todos saibam que elas amam demais a Fulano ou Beltrana.
Declarações como: Encontrei o grande amor da minha vida. Viverei ao seu lado, eternamente, são frases escritas, gravadas, que emocionam.
No entanto, quando olhamos para os nossos idosos, nos surpreendemos pelo abandono e descaso que muitos deles ainda padecem.
Basta que visitemos um lar de idosos e encontraremos dezenas deles que aguardam, ansiosamente, a cada dia, a cada data especial, a visita do filho, da filha... que nunca vem.
No dia das mães, no dia dos pais, no dia do seu aniversário, Natal, Ano Novo, eles se vestem com o que têm de melhor. Colocam perfume, arrumam o cabelo e fixam os olhos no portão de entrada.
A qualquer momento, dizem, o filho amado entrará por ali e os virá abraçar.
Ano após ano a esperança persiste. Até que a chama interior morre e eles fenecem, roídos pela saudade e amortalhados pela enfermidade que os abraça.
Doença, muitas vezes, desencadeada pela dor do abandono, o carinho sempre esperado e nunca sentido.
Por isso, quando somos pródigos nas nossas declarações de amor é bom nos perguntarmos: Amo verdadeiramente essa pessoa?
Ou somente a digo amar porque ela é útil para mim? Porque ela atende os meus desejos, antes mesmo de eu os expressar?
Ela é alguém que está sempre a postos quando preciso, me oferecendo o ombro para chorar, o braço para servir de apoio, a mão para me conduzir no rumo das minhas conquistas.
Pensemos: Quando a utilidade dessa pessoa acabar, eu ainda a amarei?
Meu amor é verdadeiro ou somente tem a sazonalidade do me servir, aqui e agora?
Se essa pessoa deixar de ser útil, se sofrer algum problema físico, eu ficarei ao seu lado? Continuarei amando e então serei eu a lhe ser útil, até o final dos seus dias?
E quando ela se for, ainda haverei de sentir a sua falta? Falta da sua presença física?
Falta de ter a quem alimentar, a quem deverei levar para tomar sol, acomodar as almofadas, levar a passeio na cadeira de rodas, limpar a face, vestir, dar o remédio nas horas certas...
Se tivermos essa capacidade de ficar ao lado de quem já não pode nos servir, nos oferecer algo em troca; se tivermos esse desejo de amar mesmo que o outro nada mais nos possa dar, então nosso amor é verdadeiro.
E, felizmente, existem desses amores verdadeiros. Esposos enfermos, idosos, pais e mães que somaram muitos anos, e continuam a ser amados.
Lembramos de Gamaliel, o mestre do apóstolo Paulo. Idoso, ele se retirara para um oásis de propriedade de seu irmão Ezequias, onde lia e meditava interminavelmente sobre os textos do Evangelista Mateus.
Abandonara as práticas religiosas do judaísmo, e a família, embora não o entendesse, o tratava com muito amor.
O diagnóstico médico afirmava que padecia de singular astenia orgânica, que lhe consumia as últimas forças vitais.
Respeitado, amado, atendido.
Oxalá amemos concretamente e possamos adentrar a velhice ao lado de quem igualmente nos ame, não por nossa utilidade em sua vida, mas por nós mesmos.
Fonte: Redação do Momento Espírita, com dados do cap. 26, do livro Personagens da Boa Nova, de Maria Helena Marcon, ed. FEP.
Em 13.9.2016.
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